João Pedro: Nosso Orgulho!
Esta é mais uma daquelas histórias que a gente fica esperando alguém vir nos dizer que é mentira ou que nunca aconteceu.
Na data de ontem, o estudante João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos foi assassinado durante uma operação conjunta das polícias Federal e Civil do RJ, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, Região Metropolitana da cidade do Rio de Janeiro.
A família, testemunhas e, até mesmo a própria policia militar confirmaram que o projétil que alvejou o jovem, saiu da arma de um policial. Até o presente momento todos afirmam que não houve troca de tiros.
Não há nada de novo em dizer que “bala perdida” só acontece na periferia, que o menino era de família negra e pobre. A novidade é que, a cada dia percebemos que parte da polícia se porta de maneira mais desumana e cruel.
“Não há nada de novo em dizer que “bala perdida” só acontece na periferia, que o menino era de família negra e pobre.“
Há alguns anos esta tragédia viria acompanhada de inúmeras justificativas, pesares e ressentimentos por parte dos agressores. Hoje, sequer conseguimos encontrar os agressores ou ouvimos qualquer pedido de desculpas, ainda que sejam evasivas, pelo contrário, depois de tamanha monstruosidade dos policias, levaram o corpo do jovem e, sem dar qualquer satisfação à família de como e onde encontrar o filho, foram embora sem proferir uma palavra.
A família do jovem João Pedro passou a noite inteira percorrendo todos os hospitais da cidade do Rio de Janeiro em busca de saber o que aconteceu. A peregrinação só terminou pela manhã, dezessete horas depois do seu desaparecimento. O corpo foi encontrado em um dos IMLs da cidade.
Até então, ninguém sabe o que aconteceu nestas dezessete horas em que o menino ferido ficou sob a guarda dos policiais, pois quando o encontraram seu filho já estava morto.
Seria desnecessário mencionar que, o jovem não tinha qualquer envolvimento com a criminalidade, porque ainda que tivesse, a policia não tem o direito de matar. No entanto, os pais de João Pedro atestam que ele era um excelente filho, os professores declararam que ele era um ótimo aluno e amigo.
Segundo o pai, o sonho de João Pedro era se tornar advogado e, certamente como a maioria dos advogados(as) negros(as) ele escolheu esta profissão, porque queria fazer justiça, provavelmente ele queria lutar em defesa da igualdade e dos direitos humanos, mas antes mesmo que ele pudesse ingressar em um curso superior, a injustiça o alcançou e tirou sua vida, tirou o único bem que poderia impedi-lo de realizar seu sonho e, o sonho de toda família.
Muito emocionado, o pai de João Pedro diz, “(…) ele estudava, era esforçado, ele sempre me deu orgulho e lá na frente eu sei que ele ia me dar mais orgulho ainda.”
A dor dos pais ao relatarem a ausência que o filho vai fazer, é desesperadora, a dor de um pai/mãe ao perder um filho é tão grande que o ser humano não encontrou palavra para descrever tamanho sentimento.
Quando se perde um pai, dizemos que o filho fica órfão, quando se perde um cônjuge dizemos que o cônjuge vivo fica viúvo(a) e assim por diante, mas como descrever a dor da perda de um filho, a dor é tanta que a etimologia até agora não conseguiu descrever.
como descrever a dor da perda de um filho.
O racismo é assim, não leva em consideração todo esforço, toda inteligência, todo sacrifício suportado, ele apenas atrasa, prejudica, destrói e mata tudo que encontra pela frente.
João Pedro e sua família são vitimas de parte da pseudo elite brasileira que insiste em exterminar a população negra como manutenção de seus privilégios.
O menino João Pedro foi tão grande que, mesmo sendo tirado de nós, de forma tão prematura, seus poucos anos de vida nos mostrou e mostrará a muitos, o caminho para da evolução e revolução, não violenta; João Pedro é semente!
Im memorian de João Pedro, deixamos os versos do negro Simonal e Rolando Bôscoli, “Cada negro que for/ Mais um negro virá/ Para lutar/Com sangue ou não”
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Referências
– https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/05/20/o-que-se-sabe-sobre-a-morte-a-tiros-de-joao-pedro-no-salgueiro-rj.ghtml – Acesso em 21 maio. 2020.
– Imagens do Google imagem.
Estevão Silva é advogado, jornalista. co- autor o livro: “Vozes Emergentes: Educação e questões Étnicos Raciais” – 2016. Trabalho no escritório Estevão Silva Advogados Associados. Fundador e presidente da Associação Nacional da Advocacia Negra – ANAN, presidente da ONG: “Clã da Negritude”
– Email: estevaoas@hotmail.com
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“Este artigo reflete as opiniões do autor e não do veículo. A ANAN não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizada pelas informações, conceitos ou opiniões do (a) autor (a) ou por eventuais prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso da informações contidas no artigo.”
Meu Deus, mais um .
Meu Pai, outra vez.
Também somos doadores de orgãos, isto não se olha cor.
Também somos médicos , e salvamos vidas. Socorro sou Brasileiro mais balança da oportunidade só tem um lado travado.
Sou Preto, afrodescendente.
Somos todos iguais mais diferentes.
Sem palavras.
É muito triste, decepcionante e revoltante, “assistir” mas um…… “caso”, mais um dos nossos ser assassinado e sabermos que o (s) assassino (s) ficará ou ficarão impunes.
A bala que sempre disseram que era perdida, sempre teve um destino certo:
*A população negra*
E o pior é que essas mortes, estão sendo naturalizadas, cada vez mais.
Me sinto impotente assim como milhares de negr@s desse país, mas parece que nossas vozes não tem eco.
Nesta crise que estamos enfrentando (pandemia) o “caso” do João Pedro, será mais um que provavelmente, será enterrado junto com ele.
Sou negra, psicóloga , mãe de um jovem de 22 anos e todas as noites eu espero ele chegar.
Tenho muito medo de que uma bala, não perdida impessa sua chegada ao nosso lar.
Minha querida prima, lamentavelmente a polícia não é o único extrato social racista. A sociedade pratica diariamente um racismo inconsciente, que é muito mais difícil de ser combatido. Se o racismo fosse exclusividade da polícia, seria fácil de ser combatido.
Lamentavelmente o problema é muito pior.
Concordo que a questão do racismo ainda é um tema recorrente. Por outro lado classificar um erro policial a um ato racista é simplificar o problema. Acredito que erros policiais quando o negro é vítima, se provado seria muito fácil resolver o problema. Porque seria fácil e palpável, logo, a culpabilidade teria alvo certeiro.
Infelizmente a realidade é muito mais complexa, porque o racismo brasileiro não é palpável, e sim dissimulado.
O policial não leva o racismo pra sociedade, e sim traz o racismo da sociedade pra dentro da polícia. Ou seja, reflete um problema que tenta se mostrar invisível, mas infelizmente, tais comportamentos são praticados até por quem denuncia.
Sou negro, bacharel em direito, policial desde 1999, casado com uma negre e pai de duas meninas negras lindas.