NOTA DE REPÚDIO

“Nossa voz não vai se calar até que suas armas se calem”.

A Associação Nacional da Advocacia Negra – ANAN vem a público repudiar e prestar solidariedade à família da jovem, mulher, negra e mãe, Kathlen Romeu, de 24 anos, que, infelizmente, foi baleada durante um tiroteio entre policiais e criminosos na comunidade do Lins ocorrido na data de 08 de junho de 2021 (terça-feira).

Kathlen era uma jovem mulher e negra que estava grávida de 14 (quatorze) semanas e, não só ela, mas, também o seu filho ou filha foram mortos diante do conflito permanente e resistente entre policiais e “bandidos” no Rio de Janeiro, tendo a sua avó presenciado o fatídico “acidente”.

Com a Kathlen morreram os sonhos de uma jovem com carreira promissora, que carregava consigo a esperança de um futuro melhor; esperança esta que foi interrompida prévia e bruscamente por mais uma ação “desorganizada” do Estado em combater o crime organizado.

Até que se apurem como se deram os fatos temos que reforçar que “a carne mais barata do mercado é a carne negra”; são os corpos negros o alvo de toda e qualquer ação policial; justificada na necessidade de combater os “criminosos”, mas, que na verdade atinge a população de bem que é vitima tanto da atividade estatal, quanto da atividade ilícita das facções criminosas. Tais situações demonstram a cruel realidade do “genocídio da população negra” enraizado e até “normalizado” em nosso país.

Sabemos que as comoções públicas; as notas de repúdio e solidariedade são o mínimo que podemos fazer diante da conduta estatal que insiste em atacar os corpos pretos – que poucas vezes tem voz, tem vez e tem sua vida assegurada pelo Estado.

Necessitamos, portanto, da concretização dos direitos fundamentais previstos na Constituição Federal para a população negra; de políticas de Governo que combata diretamente o crime, sem causar efeitos colaterais indesejados e fatais, causando abalos imensuráveis às famílias das vítimas que nunca poderão rever seu ente querido que se foi de maneira trágica, cruel e injusta.

Necessitamos de políticas públicas efetivas e menos letais de segurança pública que tenham por princípio a preservação da vida da população brasileira e, especialmente, da população negra, evitando que tragédias anunciadas tais como essa sejam a regra em nosso país.

Aguardamos veementemente e acompanharemos as ações tomadas pelo Estado do Rio de Janeiro nas investigações desse “homicídio”, esperando que os responsáveis sejam punidos e que haja mudança nas instituições. Pois, se assim não for, a população negra brasileira nunca poderá gozar da verdadeira “liberdade de ir, de vir e de permanecer”.

Ante o exposto, a ANAN reforça o seu comprometimento na defesa da vida; da liberdade e da dignidade da população negra brasileira e coloca-se à disposição das famílias vítimas da atuação ilícita e arbitrária do Estado para a adoção das medidas que se fizerem necessárias.

Estevão Silva
Presidente da Associação Nacional da Advocacia Negra- ANAN
Mylena Christina Silva de Matos
Sub. Dir. Jurídica da Associação Nacional da Advocacia Negra- ANAN
Diogo de Oliveira
Coordenador jurídico da ANAN
Anderson Veloso
Coordenador jurídico da ANAN

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Follow by Email
YouTube
YouTube
Instagram